A pandemia causada pelo coronavírus (COVID-19) produziu uma crise global de saúde que teve um profundo impacto na maneira como percebemos nosso mundo e nossa vida cotidiana. Não apenas a taxa de propagação do contágio e os padrões de transmissão colocaram em risco nossa sensação de segurança, mas as medidas de segurança adotadas para conter a disseminação do vírus também exigiram o distanciamento social, evitando que façamos algo que é inerentemente humano: que é encontrar conforto em a companhia de outros. Nesse contexto de ameaça de contato físico, o distanciamento social, físico e o papel dos diferentes canais de mídia de massa, incluindo as mídias sociais não pode ser subestimado.
Durante o bloqueio, as pessoas estão usando plataformas de mídia social para obter informações sobre o COVID-19, e elas tem desempenhado um papel fundamental na disseminação da ansiedade. Um estudo realizado pelo Kings College (Londres) publicado no início de junho no Cambridge University Press, mostrou que pessoas que recebem a maior parte de suas notícias das mídias sociais como Facebook e YouTube são muito mais propensas a acreditar em teorias da conspiração sobre a pandemia de coronavírus. Quando usadas como fonte de informação, as mídias sociais não regulamentadas podem apresentar um risco à saúde devido ao seu papel como disseminadores das crenças de conspiração relacionadas à saúde. A natureza do impacto do pânico nas mídias sociais entre as pessoas varia de acordo com o gênero, a idade e o nível de educação de um indivíduo.
Com o advento das mídias sociais no século 21, não estamos apenas tomando conhecimento das últimas notícias, mas também usando plataformas de interação social para fornecer atualizações pessoais e comerciais. Para as empresas, isso significa aproveitar as mídias sociais para apoiar funcionários e clientes como nunca antes. Para o governo, significa fazer o possível para compartilhar com eficiência informações factuais e atualizadas.
Fornecer informações rápidas e confiáveis é crucial para diminuir a transmissão de infecções altamente contagiosas, não apenas para os profissionais de saúde, mas também para a população em geral. O maior desafio pode ser fornecer informações às pessoas que estão na frente de batalha em áreas severamente afetadas, e que isso seja feito mais rapidamente do que a taxa de disseminação da doença. Muitas revistas científicas permitiram o acesso aberto à maioria dos artigos científicos no COVID-19; para os profissionais de saúde, isso é valioso e facilita a troca de informações científicas. No entanto, para a população em geral, isso não tem impacto na conscientização.
Atualmente, as pessoas ficam impressionadas com as informações que recebem em seus smartphones por meio de canais como Facebook, Twitter, WhatsApp, YouTube e Instagram. O maior problema está em determinar em quais notícias confiar. Mesmo uma pandemia pode ser usada como uma batalha política, onde alguns recomendam o isolamento social, enquanto outros recomendam não fazer nada que pare a economia. Quem está certo, quem recomenda a cloroquina ou quem lhe diz para tomar o seu medicamento antipirético e ficar em casa se tiver sintomas leves? Não é incomum ver centenas de textos diários, vídeos e até
publicações científicas em grupos de mídia social defendendo cada argumento.
Muito bem colocada a expressão: “Estamos vivendo não apenas em uma pandemia, mas também em uma "infodemia", onde notícias falsas estão se tornando mais comuns”, divulgada recentemente em um artigo na revista científica Clinics . É compreensível que todos desejemos proteger nossas famílias e amigos e que a falta de respostas sobre essa nova doença aumente o nível de ansiedade na sociedade. Entretanto a impressão é que a evidência do mais alto nível não é tão importante quanto os textos de especialistas em mídias sociais que são amplamente compartilhados na Internet.
Mas o que mudará? É certo que se trata de uma pergunta ainda sem respostas definitivas, longe disso. O avanço tecnológico nos permite levar uma vida menos solitária do que o conceito de isolamento poderia presumir, permitindo o trabalho remoto, a interação com amigos e familiares, até festas, namoros e outras interações mediadas pelas telas. A questão, ainda assim, persiste: como ficarão nossas relações sociais depois do atual período de afastamento físico compulsório?
A internet encurta distâncias, mas os relacionamentos interpessoais nem sempre – ou quase nunca? – prescindem de uma proximidade real que a grande rede virtual é incapaz de fornecer. Levando em conta o conteúdo distribuído nas redes sociais, a performatização da intimidade continuará trazendo novos tipos de celebridades em busca de likes e estilos de vida mais diversos, viralizando e caindo na irrelevância com uma velocidade rápida demais para acompanharmos tudo. Sobre os ‘influencers’ do futuro, acredito que continuarão com sua base de fãs e crescimento, porém, o escrutínio e a análise de uma certa falta de criatividade para além de dicas de autocuidado e opiniões senso comum demonstram um certo esgotamento do modelo de aspiração e influência. Uma revalorização e responsabilidade social inerente dessa fase vem criando um distanciamento entre o criador de conteúdo e gerador de valor em relação àqueles bonitos, virais e vazios cheios de ostentação que estão espalhados pelas redes. As apresentações de artistas virtuais / inteligências artificiais como performers em shows realizados em ambientes digitais podem vir a se popularizar de forma mais efetiva, gerando menos riscos acarretados pelo contato presencial, os ‘millenials’ são a turma que se adaptam facilmente a esse tipo de conteúdo e acatam o isolamento social com maior facilidade que os ‘boomers’. Artistas e empresas ganharam muito nesse cenário quando usaram essas ferramentas para ter uma conexão com o público, buscando maneiras de criar uma experiência online semelhante a uma experiência presencial. Por outro lado, o excesso de efeitos visuais produzidos digitalmente de determinados produtos cinematográficos ou audiovisuais talvez possa gerar um retorno à busca de filmes focados em diálogos ou em simples situações cotidianas devido à saturação do público.
Uma outra força da tecnologia em nossa vida e fortemente presente nas redes sociais é o e-commerce, que vai poder continuar crescendo. As lojas virtuais tiveram um aumento de 42%. As pessoas começaram a se render às compras online, gerando economia de tempo e até a permissão de maiores pesquisas de preço. O consumo e crescimento de diferentes conteúdos nas redes reflete uma mudança de comportamento, o isolamento social, mostrou para muitas pessoas, que elas podem ter talento na cozinha por exemplo, o que de agora em diante pode até mesmo gerar uma economia no bolso. Receber amigos, para jantar em casa, mais frequente poderá substituir uma reunião no barzinho.
Falando um pouco mais em relação às empresas, acredito que elas aprenderam que precisam ser mais resilientes (aguentar trancos), ágeis e adaptáveis. Rumores e exploração sobre o tema de transformação digital eram vistos no ambiente corporativo, mas, na prática, pouco se fazia de concreto. O atual cenário mostrou que está claro e premente a necessidade das empresas começarem e executar o mais rápido possível a transformação dos seus negócios, quem já havia começado está à frente e lidando melhor com as consequências do lockdown. Quem ainda está apegado ao ritmo de mudanças graduais, está correndo um sério risco de suas organizações se tornarem irrelevantes em pouco tempo. Os empresários precisam enxergar que a própria sobrevivência do negócio que está em jogo e que a revolução digital vai implicar em mudanças significativas e não apenas evolucionárias. Na prática, especialmente em nosso país, não foram os CEOs que começaram a transformação digital, mas o próprio vírus.
O crescimento do online para todas as nossas atividades vai incentivar o que podemos chamar de “contactless economy” e as redes sociais tem papel fundamental para veicular o consumo, tanto na geração de valor e marketing de conteúdo tanto na execução comercial por si com a compra e venda realizadas diretamente pela plataforma.
No contexto do distanciamento social, tornou-se impossível receber vários serviços. Se até agora os canais físicos eram dominantes, hoje o comportamento da população está mudando radicalmente e há muito mais demanda por serviços digitais e remotos. Pode-se até dizer que a chamada economia sem contato está se instalando em todo o mundo, o que é novo. Algumas empresas já entenderam e se manifestaram em relação a isso, a função de pagamentos via Whatsapp no Brasil foi uma delas que presenciamos recentemente.
Uma frase de Jeff Bezos é emblemática desse novo mundo: “No mundo antigo, você dedicava 30% do seu tempo à construção de um ótimo serviço e 70% do seu tempo a gritar sobre isso. No novo mundo, isso se inverte.”
Mesmo para aqueles resistentes que ainda não perceberam os reflexos comportamentais, muitos valores mudaram nesse período de pandemia do novo coronavírus na vida pessoal e com efeitos duradouros; as pessoas começaram a valorizar ainda mais o bem-estar e das relações. O consumo e comunicação por meio das redes sociais continuará crescendo exponencialmente.
Evelyn Bandeca
😉