Conceito do metaverso é vago e complexo, mas é real e vem sendo aplicado na prática em várias indústrias.
A ideia de um metaverso apareceu pela primeira vez na obra de ficção científica do escritor norte-americano Neal Stephenson, em 1992. Com o romance Snow Crash, ele imaginou um mundo online onde as pessoas poderiam usar avatares digitais para explorar e escapar do mundo real. Décadas depois, grandes empresas de tecnologia começaram a construir suas próprias versões de um metaverso futurista. Para clarificar um pouco mais o que é o metaverso, falamos sobre o conceito nos tópicos abaixo:
Termo vago e complexo
A revista Wired, referência em falar de temas complexos de forma simples, mas não simplificada, dedicou uma reportagem substancial sobre o tema em novembro de 2021. A matéria não deixa de lado as estratégias de quem está tentando navegar nessa onda como hype de marketing. O destaque é para o Facebook, cuja mudança de nome para Meta é o exemplo mais claro.
Pela publicação, metaverso é um termo vago e complexo, mas ela propõe um exercício que pode facilitar o entendimento: substituir a palavra metaverso por ciberespaço. Em 90% das vezes, segundo a reportagem, “o significado não mudará substancialmente”. Isso porque o termo não se refere realmente a nenhum tipo específico de tecnologia, mas sim a uma ampla mudança na forma como interagimos com a tecnologia.
Um mundo digital 3D
O metaverso é formado por espaços virtuais que podem ser explorados com uso de um avatar. Você pode jogar, fazer compras, sair com amigos em um café virtual, trabalhar com seus colegas em um escritório virtual e muito mais. Alguns videogames e ferramentas de socialização do trabalho já implementaram certos elementos do metaverso em seus ecossistemas. E mais: projetos de criptomoedas como Decentraland e The Sandbox já têm seu mundo digital em funcionamento.
No entanto, o conceito de metaverso é relativamente novo e a maioria de suas funcionalidades ainda está em desenvolvimento. Para oferecer uma experiência virtual imersiva no metaverso, as empresas de tecnologia estão incorporando tecnologias de ponta para impulsionar o desenvolvimento do mundo 3D.
Work in progress
Para reforçar que o metaverso ainda está em desenvolvimento, ou seja, é um work in progress para se usar uma expressão estrangeira reverberada no mundo corporativo, podemos ter o ponto de vista de um especialista em tecnologia como Tim Bajarin. Articulista da revista Forbes, ele defende o ponto de vista do conceito ainda em mutação: ninguém sabe se haverá apenas um grande metaverso abrangente ou vários metaversos pelos quais você pode viajar. À medida que a ideia continua a se desenvolver, espera-se que ela se expanda além dos videogames e das plataformas de mídia social.
Trabalho remoto, governança descentralizada e identidade digital são apenas alguns dos recursos potenciais que o metaverso pode suportar. Ele também pode se tornar mais multidimensional por meio de fones de ouvido e óculos VR conectados, para que os usuários possam realmente andar fisicamente para explorar os espaços 3D.
Combo de tecnologias
Falar em metaverso também é falar em um universo de tecnologias, entre as quais os especialistas destacam blockchain, realidade aumentada (AR) e realidade virtual (VR), reconstrução 3D, inteligência artificial (AI) e Internet das coisas (IoT).
As criptomoedas, por exemplo, permitem que os usuários transfiram valor enquanto trabalham e se socializam no mundo digital 3D. Já a AR e a VR proporcionam uma experiência 3D imersiva e envolvente. Por meio de aplicativos de RA, os usuários podem visualizar seus arredores digital e interativamente, de forma semelhantes ao que temos no jogo para celular Pokémon GO, para falar apenas de um recurso conhecido.
Já a Internet das coisas (IoT) permite a coleta e fornecimento de dados do mundo físico para alimentar os usos do metaverso.
Nova forma de trabalhar
O metaverso não é uma brincadeira e já chegou aos locais de trabalho. Há várias ferramentas que traduzem a presença do conceito nos escritórios. A Red Hat, multinacional de tecnologia, tem aplicado recursos como o Branch, um mecanismo que permite a criação e exploração de mundos bidimensionais (2D) para interação entre profissionais.
Outra ferramenta é o Wonder, no qual o usuário inicia sua interação com colegas de trabalho usando uma tela em branco, onde cria quadrados de área de tópico para conversas específicas. A revista da The International Facility Management Association reforça a tendência, destacando a modelagem do chamado escritório 3.0, que agrega recursos como navegação indoor e analytics para criar um novo espaço de trabalho.
Fábricas virtuais
Além dos escritórios, as próprias fábricas podem se valer do metaverso para avançar em sua produção. Para isso, existem empresas como a Nvidia e sua plataforma aberta Omniverse, projetada para conectar espaços 3D em um universo compartilhado e facilitar a colaboração virtual entre engenheiros, designers e criadores. A plataforma está sendo usada pelo BMW Grouppara reduzir o tempo de produção e melhorar a qualidade do produto por meio de fabricação inteligente.
O modelo usado antes pela montadora exigia a importação de dados de vários aplicativos, o que era demorado e gerava problemas de compatibilidade. Hoje, funcionários em locais diferentes podem acessar a simulação virtual e trabalhar juntos para planejar e otimizar sistemas de produção sempre que precisarem. No futuro, planejadores e especialistas em produção poderão colaborar usando dados em tempo real, sincronizados na nuvem.
Metaverso é real na indústria de AR, VR e HR
Se a BMW está entrando aos poucos no metaverso, a indústria de realidade já mergulhou de cabeça no conceito. Juntas ou separadas, as atividades de realidade aumentada (AR), realidade virtual (VR) ou de hiper-realidade (HR) poderão movimentar US$ 21 bilhões em 2024, o que é um salto para o valor atual de US$ 3,9 bilhões.
O crescimento acelerado pode ser puxado pelo metaverso, como pontua a reportagem do Utah Business, de março do ano passado. O material confirma a transformação do metaverso e como as empresas de tecnologia, entre outras, têm navegado na onda. Elas trabalham com um mundo real aumentado e virtual, mas seus lucros são bastante tangíveis.
Somente nos Estados Unidos, estima-se que 83,1 milhões de pessoas usaram a RA para fazer compras online ou outras atividades em 2020.
Como as marcas podem entrar no metaverso
Apesar de várias empresas de entretenimento e de tecnologia já estarem ativas no metaverso, muitas outras são novatas no tema e podem estar temerosas de entrar no novo universo.
Janet Balis, em artigo para a Harvard Business Review, lembra que para esse último grupo a dica é pensar no conceito como uma oportunidade. “Para as empresas que ainda estão à espera, é importante que cada marca encontre seu lugar e equilibre a equação risco-recompensa”, disse ela.
A Nike, por exemplo, tem solicitado patentes para bens virtuais e construindo ambientes virtuais de varejo para vender produtos. A estratégia deve envolver a escolha de alvos e a procura por aplicativos como algumas das iniciativas, além de planejar a entrada no metaverso com auxílio de profissionais como os de agências especializadas.
Fonte: Fundação Dom Cabral
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